Vitamina A
Com um último olhar no espelho ao lado de sua cama, conferi a maneira que me encontrava. E sorri. Inevitavelmente.
Estela sabia o que era necessário para enlouquecer uma mulher. Mais que um sorriso poderoso e olhos que flamejavam um fogo verde capaz de queimar as pobres donzelas que se interpusessem em seu caminho, era a própria personificação da luxúria.
E na noite passada esse sentimento me abraçou e engoliu-me em suas cores que vibravam sexo, com cada toque que ressoou por minha anatomia.
— Não tenha medo — Ela disse suavemente ao meu ouvido, assim que seus olhos cruzaram com os meus naquela boate, mas a manutenção dos meus castanhos sobre suas orbes nunca foram de pavor.
Desde antes, desde o princípio, era desejo. Um tão cru e pungente que me levou até a cama de uma desconhecida, que só cheguei a saber o nome quando pediu que eu gritasse num gozo jamais experimentado.
Seu corpo estava acima do meu. A pele bronzeada e suada investindo com três dedos dentro de mim enquanto sussurrava no meu ouvido que nunca tinha fodido nenhuma mulher tão quente quanto eu.
Sua língua percorria da clavícula ao lóbulo lentamente, em contraponto às estocadas nada carinhosas que exercia contra meu interior, que recebia úmido e faminto no entorno dos três dedos penetrados até o máximo que podiam.
— Você aguenta doçura — Me encorajava e relaxava, ao mesmo tempo em que eu era preenchida por seu poder. E eu não duvidava. Só com suas palavras todo meu corpo sabia que eu cederia ao que mandasse por estar hipnotizada por ela. Desde antes, desde o princípio.
Estela me fodeu como ninguém antes e a marca do caminho que fez se encontrava em todo meu corpo: nas costas arranhadas, no interior das coxas que detinham a marca da pressão dos seus dedos e no meu pescoço, repleto das marcas de seus lábios carnudos.
— Não marca — Lembrei que pedi na noite passada, mas me ignorando completamente ela somente puxou meus cabelos mais forte em seus punhos e entrou com mais força, cobrindo meu corpo com o seu, colocando sobre minha coluna parcialmente seu peso enquanto eu estava de bruços e apoiada de pernas separadas sobre o seu colchão com apenas um travesseiro abaixo de mim para que estivesse no ângulo perfeito para que me comesse fundo.
— Pensarei no seu caso — Disse observando meu corpo nu e exposto depois do terceiro orgasmo da noite. Sorriu maliciosa, encontrando meus olhos no mesmo espelho em que uso para atravessar minhas próprias recordações.
Estela sorriu em seguida e, dois segundos depois, sem deixar de me encarar, separou os meus cabelos curtos do lado de meu pescoço escutando minhas negativas que saiam como gemidos incontroláveis.
— Não? — Perguntou, raspando os dentes da minha nuca até a lateral do meu pescoço penetrando os seus olhos nos meus, lambendo a região que pretendia marcar.
— Por favor — Suspirei, e ela soube que era um sim pela forma que meu corpo reagiu ao seu quando moveu a perna entre as minhas abertas.
— Pede — Demandou só por pirraça e eu revirei os olhos, recebendo um tapa forte sobre a minha bunda pela impertinência. Arfei com mais força, mas não entreguei — Suplique que eu marque esse corpo todo — Ordenou, enquanto minha libido escorria na sua coxa torneada nos deixando alucinadas. Normalmente depois do segundo eu queria ser deixada sozinha no meu espaço, afinal, sexo nunca havia sido tão satisfatório. Mas naquela noite foi diferente. Desde antes, desde o princípio.
— Não — Decretei, e seus seios começaram a deslizar mais lentos em minhas costas, no mesmo movimento que meus quadris exerciam em um rebolar sensual sobre sua perna, com meu clítoris sendo friccionado aquela superfície sólida que era seu corpo. Estela me deu uma falsa impressão de que me permitiria.
Me deixou quase tocar o alívio, mas um segundo antes que eu gozasse, como se soubesse tudo do meu corpo, retirou-se dali com seu mesmo sorrisinho acompanhando minha frustração pelo espelho.
— Eu sei que você quer — Sentenciou, deixando o espelho e me alçando meu queixo, olho no olho. Tentei beijar sua boca – tamanho o meu desespero, mas ela negou-me o contato delicioso que eu quis e não tive até aquele momento.
— Estela — Pedi suada e com os olhos pesados. Parecendo que cederia, mas só por três segundos, ela retornou a sua pose inicial, intransponível — Me marca com os teus dedos — Eu disse, retirando a língua dos lábios para chupar os três que estiveram dentro de mim — Com as tuas unhas — beijei as pontas pouco afiadas — E com a tua boca — Não esperei sua reação e roubei-lhe um beijo delicioso e cheio de uma paixão tão intensa que, no meio do encontro das línguas, sua perna afastou as minhas e suas mãos controlaram meus quadris até que eu gozasse com a sua língua chupando a minha. Gemi com os seus lábios mordendo os meus e com um sorriso enorme de quem havia conseguido o que queria.
— Que ódio — Disse me puxando pelos cabelos com mais força e escondendo seu sorriso de satisfação, me marcou como queria e sem que eu impedisse.
Os arranhões vieram em seguida, na quinta vez, quando eu estava por cima dela, com a sua intimidade deslizando na minha numa mescla dos nossos sumos em contato direto.
Estela gemia rouca e no meio do seu gozo se levantou em busca do meu corpo. Afundando seus lábios nos meus seios conforme gritava insanamente o meu nome entre sugadas fortes e no fincar de suas unhas em minha pele clara.
Se viu perdida e dessa maneira, me atirou na cama para me chupar como um animal que não via alimento há dias. Seus dedos não tiveram calma e abriram-me com a velocidade que lhe foi possível, para que eu recebesse dessa vez a sua língua em minha pele já sensível.
Ela sabia. Era a sexta vez.
Respirando fundo me beijou profundamente e começou a me chupar com paciência até eu chegar outra vez ao ápice. Depois subiu sobre mim e me beijou compartilhando o meu gosto.
— Não consegui resistir a te beijar — Falou, me dando vários selinhos e me trazendo a seu peito para acariciar meu cabelo até que eu caísse num delicioso sono sentindo seu cheiro.
Quando levantei hoje pela manhã, imaginei que poderia já ter saído. Quase temi isso, mas então ouvi passos e só tentei me colocar mais apresentável para agradecer pela noite e culpar um pouco a bebida pelo fato de ter ido parar na cama de uma desconhecida na melhor noite da minha vida.
Respirei fundo depois de acessar minhas lembranças e me envolvi no lençol de sua cama por não ter encontrado minha roupa por lugar nenhum. Nota mental: procurá-las em algum lugar…
Refiz o caminho pela sala do local arejado e branco, percebendo mais marcas irrevogáveis do nosso encontro. Um abajur jogado no chão indicava o preciso momento que Estela insistiu em me comer sobre a mesinha ao lado da porta, fazendo-o com tanta maestria que sequer precisamos da iluminação de entrada.
Foi meu primeiro orgasmo e eu sequer tinha tirado uma peça de roupa. Bastou seus olhos nos meus e seu dedo polegar brincando com meu clitóris tanto quanto era permitido pela calcinha colocada ao lado e pronto: estava eu, cinco minutos depois, gozando com as mãos puxando sua nuca e a cabeça fitando o teto, rogando que a sensação não passasse.
E não passou. A segunda vez aconteceu no sofá cuja as almofadas estavam espalhadas por todos os lugares, resguardando no assento direito somente a minha calcinha rompida que eu lembrava bem de ter visto pela última vez próxima do nariz de Estela, que elogiou meu cheiro e depois pediu para sentir mais perto, me chupando em seguida até eu alcançar o orgasmo.
Ponderei sobre tomar a calcinha nas mãos, decidindo se valeria a pena. Tão imersa estive na decisão idiota que sequer a percebi da varanda, me encarando com o mesmo olhar desejoso de outrora.
Minhas intenções de só me despedir e sair foram por água abaixo naquele preciso instante. Não havia ser humano na terra capaz de somente dizer adeus e sair, com Estela em seu terno branco de decote profundo causado por seu único botão fechado próximo dos seios e cabelo molhado preso de uma maneira completamente sensual.
— Receio que não sirva mais — Me disse conforme o sol beijava sua pele nos primeiros raios da manhã. Nem Renoir foi capaz de pintar algo tão erótico quanto me parecia o retrato seu corpo diante dos meus olhos.
— O que? — Tive que pedir para que falasse novamente, pois nada ouvi do que me disse.
— A calcinha — Pontuou e riu de mim depois de três segundos sem que eu pudesse responder nada apenas encarando como a calça se aderia bem às suas curvas absolutamente perfeitas.
— Sim, até porque você a deixou… — A menção natural da situação fora da minha cabeça deixou minhas bochechas automaticamente ruborizadas e isso não passou despercebido a uma Estela muito perspicaz.
— Em frangalhos, eu sei. É por isso que providenciei um conjunto de lingerie e uma troca de roupas. Tudo no banheiro da suíte. Espero ter acertado as medidas só com as mãos — O último pronunciou mais devagar e com um sorriso cínico de quem sabia o quanto eu terminava afetada por mais e mais frames de nossa noite.
— Então acho que… E depois eu… — Minha voz parecia que estava prestes a sumir a qualquer momento só pela maneira que seus olhos encararam o tecido branco que eu sustentava em meus seios. Estela também tinha sua memória em pleno trabalho naquele momento.
— Sem sequer me dar um bom dia? —Questionou, forçando uma ofensa num tom divertido. Estela se deliciava com meu nervosismo claro.
— Bom dia — Falei dando de ombros e quase correndo novamente para o quarto, mas sua voz imponente me paralisou.
— Com toda essa vontade, suponho que deseja-me um dia péssimo disfarçado. Vamos lá Adelaide, você pode fazer melhor que isso. Venha até perto da sacada e me cumprimente como demanda o estatuto da boa educação. Me mostre outra vez — Insistiu, trazendo de volta a frase de ontem à noite, muito embora não a tivesse completado, me incitando a atravessar o caminho que nos separava até a incrível vista de São Paulo que tinha da sacada do seu apartamento.
— Bom dia — Me disse, enquanto eu deixava o fôlego ser tomado por mim diante daqueles prédios sendo tocados pelo início da manhã. Nos raios claros como os verdes dos olhos de Estela, a capital paulista acordava.
— Bom dia — Respondi, sentindo seu corpo atrás do meu, me abraçando e distribuindo beijos suaves por todas as marcas que me deixou noite passada. Não resisti ao arrepio dos lábios carnudos e virei em busca de um beijo que terminou de arrancar de mim todos os meus sentidos.
— Agora sim — Sorriu apertando minha cintura depois de distribuir selinhos por meus lábios, finalizando o encontro delicioso das línguas. Quando tentou se afastar eu retive seu corpo perto do meu. Sem o efeito da bebida, mas com o do seu gosto, me vi corajosa.
— Eu não tenho medo — Avisei com as mãos no colarinho do seu terno branco, encarando mais atrevidamente o decote com o lábio inferior entre os dentes.
— Eu só tenho trinta minutos — Me contou, com as pupilas dilatando no seu preciso instante em que deixei o lençol cair, revelando o meu corpo nu para os seus olhos. Era cedo e não tinha muitas pessoas começando suas vidas naquele horário. Haviam perigos, mas não eram muitos, mas de qualquer forma valia o que eu disse.
— Eu só preciso de seis — Pronunciei o número puxando o meu sotaque em seu ouvido e a recordando da quantidade de vezes que me fez estremecer na outra noite. Foi somente do que precisei para ter Estela fechando os olhos e lambendo os lábios, louca para me comer de novo.
Neguei.
— Quero te dar bom dia como demanda o estatuto da boa educação — Uma gargalhada rouca sua quase deixou o momento adorável, mas foi somente quase, pois nada poderia tirar a aura que dele emanava, ainda mais quando Estela me olhou sedenta abrindo o botão da calça branca.
— Ajoelhe-se — Mandou e eu não consegui pensar duas vezes antes de fazê-lo. Fiquei como me pediu e senti seu punho enrolando os fios curtos como podia em volta dos dedos largos da mão direita. Com a esquerda acariciou a lateral do meu rosto — O que você tem de linda você tem de safada, Adelaide — Elogiou e consequentemente me encheu de um poder que me levou a abaixar a roupa junto com a calcinha, ficando com sua intimidade diante dos meus olhos. Era quase perfeito, só precisava do ângulo preciso em que a vi e soube que não dava para só sair e ir embora.
Com um sorriso travesso, conduzi seu corpo até perto da sacada e vendo seus olhos verdes interessados decidi demandar um pouco:
— Apoie os cotovelos. Quero te chupar como te vi pela primeira vez essa manhã — Não me respondendo, realizou meu desejo. Inclinou-se sobre o apoio e separou melhor as pernas grossas, acompanhando com os lábios entre os dentes como eu beijava o interior das coxas, sempre arranhando, mordendo e marcando com os lábios como fez comigo.
Separei os lábios da boceta macia que detinha, olhando bem em suas orbes provocando a presença de sua mão sobre o rosto.
Ela sabia o que significava quando a perna tremeu no contato da minha língua com a carne que fui abrindo e explorando de cima até perto do seu ânus.
Estava ciente de que isso voltaria a acontecer em outra ocasião além daquela. E aceitou com um sorriso surpreso e extasiado a condição.
— É um pecado sentar nesse rostinho uma noite e uma manhã somente. — Disse com todas as letras, atraindo mais a minha boca para que eu repetisse a lambida longa e obtivesse o mesmo efeito em seu corpo. Nada mais gostoso que uma mulher que não se reservava ao se entregar a paixão. A que geme mesmo, a que grita o que sente, a que engole, a que goza, a que come, sem medos.
Estela era assim. Sei bem porque evitou o beijo inicialmente, mas no momento em que se deu conta de que não tinha mais como controlar, cedeu. Porque não tinha limites.
Não precisava, não com aquele corpo que era tão fácil se perder. E eu estava meio assim, tudo porque o seu gosto tinha um sabor agridoce que me tirava o juízo e me obrigava a tirar mais com a minha língua daquela fonte.
Era insaciável e inesgotável. Quanto mais eu me detinha em acessar com a ponta da língua, mas a mulher de cabelos castanhos me oferecia, lubrificando o meu paladar para que pudesse deslizar fácil com meus lábios lambuzados de Estela pelo seu clitóris ereto do prazer que experimentava.
A mulher, a propósito, detinha seus olhos fechados, como quem tomava um pouco de Vitamina A logo pela manhã, sim isso mesmo, com a minha inicial.
Quando atingi o ponto rosado, Estela puxou meu cabelo com mais força, ondulando os quadris sobre mim quase sentando em meu rosto como propunha, perdida e desesperada por conseguir impor seu ritmo. Fiz que não com um gesto e retornei a entrada, enfiando a minha língua no interior, entrando e saindo só para acompanhar seu desespero.
— Adelaide — Choramingou como eu fiz outrora, e tornei a fazer que não, encontrando ainda mais delícia em somente foder sua fenda com a minha língua. Aliás, para não ser tão cruel, também desci minha língua até uma região que percebi que Estela encontrava um prazer agudo, provocando um sorrisinho safado acompanhando de um gemido. Descobri seu segredo, Estelinha.
Me demorei de uma entrada apertada a outra, deixando a mulher nos meus braços cada vez mais abandonada num prazer que não explodiria completamente sem que eu a tocasse onde queria. Era sua tara, sua condição, seu desejo maior. Eu percebia toda sua vontade concentrada naquele ponto.
E por isso a castiguei trazendo até meus dedos, preenchendo-a em todos os seus espaços, massageando o ânus sem penetrar e fodendo a boceta com a minha língua. Sentia que Estela cairia a qualquer momento.
— Pede — Decretei, e com um suspiro derrotado, ela me olhou nos olhos passando o seu líquido do meu queixo até a língua outra vez.
— Me faz gozar na sua boca. Eu quero ser sua também — E sem delongas, abri meus lábios de golpe e prendi entre eles o clitóris durinho que tomei com a velocidade combinada de três dedos dentro de Estela, que escorregaram fácil tamanho tesão estava sentindo. Tanto que junto ao trabalho de minhas mãos e língua, não demorou a se desmanchar sob os meus toques, caindo sobre as minhas pernas, mantendo-se flutuando no orgasmo enquanto roçava em minha coxa e tinha a boca em minha orelha.
— Você é muito educada — Foi o que conseguiu me dizer conforme recuperava o ar, tendo que abrir o terno depois de tanto. A visão dos seus seios obrigou minhas mãos a tocá-los quando tomei sua língua na minha, compartilhando naquele beijo safado seu gosto saboroso.
— Dez minutos — Me informou olhando no relógio de pulso. — Acho que você precisa de um, melhor, de três — Os que faltavam para devolver o que presenteou.
— E o trabalho? — Perguntei subindo no seu colo, juntando a que tirasse a calça e depois o terno. Feito isso ainda soltei seu cabelo.
— Sabe que acordei com uma tosse que não passa de jeito nenhum? — Mentiu, forçando a doença como a ótima atriz que mais tarde descobri que era.
— Sendo assim acho que acordei meio gripada. Alguma possibilidade de ter pego com você? — Estela riu e fez que sim, levantando com seu corpo perfeito e nu me levando nos braços até dentro do apartamento.
— Tem inúmeros lugares e formas que ainda quero foder você, Adelaide. E tem que ser tudo hoje — Afirmou, perpassando todos os cômodos e nos encaminhando para o quarto.
— Não podemos guardar para amanhã? — Questionei, com uma risada que foi suprimida por seus dedos entrando dentro de mim assim que senti o colchão em minhas costas.
— Não. Amanhã já é de outro jeito e em novos espaços — Falou, tocando meu nariz com travessura e iniciando os movimentos de dentro para fora em mim, que pronta já estava desde que a vi gozar nos meus dedos — Te assusta? — Quis saber ao identificar surpresa nos meus olhos, mas não era isso, não mesmo.
Nunca consegui sentir intensidade para que não terminasse refém dela. É o que me move e o que me mata.
— Eu definitivamente não tenho medo…
Conto erótico by Letícia Araújo (@Leteratura__)