Tangerina
Abrindo a porta do meu quarto, deixei meu olhar pousar diretamente na janela da casa vizinha na esperança de encontrá-la ali, como todas as quintas-feiras por volta das sete horas da noite.
Marina, uma sedutora instrumentista que vivia numa casa no mesmo terreno que o meu. Aluguei para ela há algumas semanas, mas nem de longe imaginei que dividir um mesmo quintal terminaria sendo tão excitante.
Tudo começou quando não consciente de sua presença acabei caminhando de calcinha e sutiã pelo meu quarto, ignorando completamente o fato de que ela havia pela primeira vez trabalhar e não tocar numa noite.
Houve certo susto quando percebi aquele acorde cortar o silêncio entre os cômodos próximos, mas num passe de um olhar aquilo passou por todas as fases do descobrimento do proibido: Vergonha, tentativa de esconder, percepção do calor causado, equilíbrio entre a razão e o desejo e por fim uma vontade intensa de transformar o magnetismo em uma transa de horas.
Senti tudo aquilo. E em seu olhar verde misturado com o toque de um violão lento tudo transformou-se em uma jura de ambas as partes. Promessa de uma apreciação cor de floresta que começou em meus pés e terminou em nossas percepções atingindo a mesma linha.
Todas as quintas eu esperava-a e sempre repetimos a mesma observação quente com Marina sempre ficando e toda vez mais descarada na forma com que olhava cada parte minimamente desnuda de mim.
Naquela noite queria diferente. Meus sentidos vinham aguçando-se, a cada semana sua maneira de me atingir chegava mais profundamente até mim e cheguei a conclusão de que iria por bem seduzi-la até que decidisse romper a distância e viesse tocar-me como fazia com seu violão.
Dessa vez ela demorou, não sei se prevendo minhas intenções ou por simples coincidência de um destino torturante, mas ela somente apareceu em sua típica meia luz após uns bons dez minutos.
Foi o suficiente para meu peito subir e descer e o suor correr por minhas costas, incitando-me até se não quisesse ao banho que ela aguardava sempre tocando alguma música popular diferente que ficava muito erótica em seus dedos.
Quando vi Marina fechar a porta atrás de si e tomar seu instrumento, dei-lhe um sorriso tímido que foi correspondido por um mais de lado acompanhado da ação de colocar-se cômoda sobre sua poltrona.
— Uma espectadora incrível, mas hoje ultrapassamos essa linha — Disse a mim mesma, não tomando nenhuma roupa como costumava antes de entrar para meu banho após um dia de trabalho.
Deixei a água lavar as minhas tensões da rotina e também aquelas que havia incutido a mim mesma ao pensar em colocar em prática uma provocação intensa. Assim, após enxugar-me, sai leve e nua como faziam os despudorados seres primitivos.
Ainda com alguns pingos de água correndo em minha pele, provocando-me com seu percurso gelado e persistente em ser um pouco parte de mim, me encaminhei até a minha mesa de cabeceira tirando de uma gaveta um perfume de tangerina que passei pelo meu corpo.
Quando iniciei meus toques foi quando finalmente pensei em olhar em sua direção para olhar se seus escurecidas acompanhavam meus movimentos, porém em algo segurei-me. Iria levá-la devagar, dominando-a e matando divinamente como dizia a letra da música que ela trazia em melodia.
Aquilo envolveu-me na medida necessária para que começasse a tocar-me conforme espalhava a essência com a minha mão esquerda sobre a minha pele que sentia o calor de um assistir muito mais intenso apesar de não vê-lo.
Queria ir a diante e tudo ali convidava-me a um pecado que eu não negaria, não sabendo que estava sendo vista. Assim, aproveitando a gaveta ainda aberta, retirei dali o vibrador para deixá-lo próximo de mim para quando estivesse pronta.
Eu me deixaria assim. Cheia de vaidade e de tesão comecei a tocar meu pescoço, passando minhas unhas curtas por ali e causando arrepios que levavam toda eletricidade do meu corpo até a região dos quadris.
Suspirei e com isso encostei-me melhor no travesseiro, cedendo a mim mesma em permitir um acesso totalmente sem vergonha. Já havia feito aquilo, mas nunca tão lento e com uma finalidade tão clara.
Queria aproveitar cada segundo de mim e queria que ela visse o quanto eu desfrutava do meu corpo para, dessa forma, implorar por que eu desse um pouco de mim para ela em minha cama.
Embebida da calidez da minha pele continuei irradiando em minha exploração desejo e ausência de juízo. Espalmando a clavícula, descendo por entre os seios morenos até começar com os dedos a circular os bicos.
Deixe-os rígidos, circulando as protuberâncias com movimentos contínuos que às vezes resumiam-se a apertos constantes na intensidade precisa do prazer. Pegava-os inteiros, amassava-os entre meus dedos e beliscava deixando o som da música ao lado entrar em meus tímpanos e sair por meus lábios com gemidos indeléveis.
Desci as mãos arfando um refrão doce como a fruta descrita, sentindo meu perfume que coincidentemente a nomeava até que atingisse minha boceta a qual abri com dois dedos.
Senti meu gosto com o dedo anelar direito, introduzindo-o em sua ponta para colher um pouco do meu suco e bebê-lo em uma sugada lenta que refez todo caminho até deslizar molhada por meu clitóris.
Eu queria mais que meu dedo dentro de mim e tinha o necessário muito perto. Desta feita, apertei o botão do vibrador acionando-o para massagear, em primeiro, a minha entrada.
Marina mesmo de longe parecia orquestrar aquele momento, aproximando o fim da canção ao ápice que nasceria da gênese do corpo feminino: A intimidade. A vida e o prazer, tudo que movia o mundo, começava e terminava ali.
Sabendo que queria aproveitar o trajeto entre aquela dicotomia inevitável me provoquei gemendo a cada vez que usava o vibrador somente de leve contra minha pele. Meus quadris instintivamente se mexendo sobre aquele eixo que tremia contra mim e me contava intimamente sobre a intensidade do meu orgasmo.
Me rendi aquela ausência de som que dizia em silêncio que eu ia seguir até o gozo, ameaçando somente uma última vez antes de entrar, era o suficiente para entrar em mim.
Tomada pela intensidade e desistindo de resistir em função de uma cena perfeita olhei pela janela somente para encontrar o quarto do lado vazio. A frustração que me abateu durando só dois minutos, o tempo de ouvir-se batidas na porta.
Sai da cama e num fôlego abri me deparando com ela perto demais, suas bochechas vermelhas e sua respiração entrecortando como se tivesse corrido uma maratona.
— Preciso te provar — Disse me puxando pela cintura e enfiando seus dedos por minha nuca, seu jeans áspero em contato com minha pélvis que ia deixando-o úmido.
— Me tome — Pedi e seus lábios encontraram os meus beijando-me como se em meus lábios encontrasse o seu ar. Não importava se houvesse falha, não importava se não conseguisse, queria ter-me com um único encosto de lábios e línguas.
Puxei-a pela camisa e depois fui tirando-a pelo caminho até que finalmente atingimos juntas o meu quarto, com ela naquele cômodo e altura já nua e me comendo somente com beijos.
— Quero colocá-lo dentro de você — Ela declarou quando nos deitamos, o vibrador em sua mão apontando-se para mim.
Sabia que meus olhos eram puro deleite então sem qualquer artifício para negar eu pedi balançando a cabeça e abrindo as pernas para que ela fizesse-o entrar em mim enquanto me beijava.
Gemi na língua de Marina e seu beijo engoliu de forma selvagem aquele som, devolvendo o presente com seus dedos descendo até o meu clitóris que começou a acariciar.
— Porra — Falei sentindo meus olhos apertarem de uma forma deliciosa, tornando aqueles estímulos quase insuportáveis de tão intenso.
— Você queria isso quando se mostrou para mim. Queria que eu viesse aqui te foder, não queria? — Questionou chegando ao meu ouvido, seu peito avantajado se esfregando no meu toda vez que respirava contra mim.
Era a nova música que nos envolvia enquanto ela me masturbava com mais e mais afinco, mordendo minha orelha, arranhando meus quadris e agarrando-se a mim até que aquilo bastasse.
Que a terra fosse pouco, que eu voasse até o gozo mais cru que pudesse explodir em mim, segurando-me ao corpo magro daquela mulher enquanto recebia em mim os espasmos responsáveis por enviar inúmeros sinais de prazer por mim.
As pernas tremeram, os seios formigaram e os lábios pediram um beijo afoito que cantava segredos íntimos em nossos ouvidos ao tempo em que eu descia para chupa-la.
Sua boceta molhada recebeu-me com seu néctar único, me levando a lamber bem rápido e sem perder tempo. Abri-a com os dedos e penetrei a língua dentro algumas vezes, espalhando seu gosto de dentro para fora para ali novamente tomar da minha vizinha adorável.
Toquei-a com a minha língua como ela fazia com seu violão, com cuidado, habilidade e dedos que envolviam as coxas que levei até meus ombros.
— Me faz gozar pra você — Ela pediu com desespero e como eu a excitara por muito tempo se derramou rapidamente só com a carícia da minha língua por alguns minutos sobre ela. Marina gozou com os dedos envolvendo-me os cabelos, me melando com sua essência até que eu finalmente a beijasse novamente fazendo-a beber de si tandem. Encontramos a morte divina da música. Doce tangerina…
Conto erótico by Letícia Araújo (@Leteratura__)