A arte de perceber o desejo
Seus olhos me encaravam na penumbra enquanto movia as cadeiras ao ritmo da música. Seu corpo era absolutamente sensual, suas curvas chamavam-me ao caos e a um erro que eu quase sentia o quão gostoso era em minha língua. Ana era uma belíssima mulher. De ascendência espanhola, vivia no Brasil desde que era pequena e era namorada de um conhecido.
Caique era idiota, abusivo e a traia constantemente, o que não significava que eu poderia querer, sem culpa, beijar a mulher a qual ele se relacionava. Sentia uma espécie de culpa em não sentir nada por ele quando Ana se movia daquele jeito levemente embriagado e quando seu sorriso chegava até o meu.
— Você não pode ficar parada aí a noite toda — Falou ela diretamente para mim. Seu rosto era de uma incredulidade quase graciosa se não fosse antes muito sensual.
— Não só posso como vou — Eu disse, e para dar-lhe um agrado dancei com os dedinhos para cima. Ana riu disso, mas não se contentou e acabou me puxando até ela para a pista. Tocava um típico funk carioca e mesmo que eu não soubesse um único passo, tinha o ímpeto de arriscar um improviso bem perto daquela mulher que começou dançando à minha volta. Porém, a presença de alguns do nosso ciclo me impedia prontamente.
— Se deixa levar — Me convidou, descendo até o chão. Eu evitava heroicamente olhar aquela mulher, mas seu movimento próximo estava fazendo minha sanidade fugir de pouco em pouco. Assim, tomei minha bebida e permaneci parada como um poste.
— Não sei dançar — Pontuei, enquanto ela veio subindo colocando os braços em volta do meu pescoço para fazer meu corpo se mexer. Cai no seu encanto por dez deliciosos segundos até decidir não sucumbir publicamente à tentação. Para defender-me, retirei gentilmente seu toque de mim e fiz menção de voltar para o meu canto no bar.
— Você não quer dançar comigo por causa do Caíque? — Bingo, mas não disse nada diretamente — Não precisa se preocupar com ele. Tem uns dias que já terminamos, então ele não te ou me incomoda mais — Isso explicava a ausência dele na data de hoje. Logo ele que não deixava a garota sair sozinha de jeito nenhum — Sei que ele era seu amigo, mas…
— Ele não era meu amigo — A interrompi, e o seu sorriso se ampliou um pouco mais. E já que não tinha muito impedimento, eu me deixei atingir pela chantagem que existia por trás da sua boca formando uma meia lua luminosa — E se é para a gente comemorar, acho que vale até dança desajeitada — Cedi, sendo puxada outra vez por ela que estava ainda mais animada.
— Eu te ensino — Ela disse, e quando outra música 150 bpm começou a soar, ela me trouxe até si. Colocou minhas mãos em sua cintura e cortou a nossa distância de costas para mim movendo sua bunda.
Aquilo tudo quase roçava em mim e seria perfeitamente normal quando metade da balada estava dançando assim, não fosse o fato de que aquilo quase matava a sapatão, vulgo eu. Poderia ser considerado homofóbico.
— Ana… — Eu disse, evitando puxar seu cabelo longo e cheio como queria. Seu pescoço parecia delicioso para minha língua, mas até então eu não tinha permissão para aquilo. Aliás, existia uma grande possibilidade de ser só uma dança inocente. De amigas.
— Yasmin — Falou meu nome, subindo um pouco o corpo. Ainda estávamos próximas, mas agora seu pescoço estava muito perto da minha boca e meus seios tocavam suas costas. A diferença de altura favorecia que eu sentisse seu corpo todo.
— Preciso ir ao banheiro — Foi o primeiro que me ocorreu e, fugindo como o diabo o fazia com a cruz, procurei a primeira porta que felizmente deu numa sala de cabines. Só percebi Ana em meu encalço quando levantei o olhar e encontrei seu reflexo no espelho.
— E agora? Vai me contar a razão verdadeira do porque não chega perto ou vai querer que eu te dê o benefício de falar do meu ex de novo? — Ela perguntou, cruzando os braços. Com raiva ela ficava acentuadamente mais bonita. Ana era uma mulher que tinha um corpo pequeno. Era baixa, tinha longos cabelos, sua pele era negra e seus cabelos tinham uma cor preta naturalmente bonita. Seus olhos, em contraste, eram claros, quase esverdeados, como o de uma princesa.
Eu, uma reles mortal, não achava que nem solteira uma garota como aquela me daria atenção, por isso, limitei-me a algumas desculpas para manter uma distância saudável. — Não há nada o que dizer — Eu falei, com um tom que entregava minha própria mentira. Eu mesma me identifiquei.
— Eu sempre quis me aproximar de você. Ser sua amiga, mas você não me dava abertura. Achei que era porque o Caíque implicava com qualquer um que ficasse perto demais, mas agora não tem razão. Na real acho que você tem algo contra mim — Era uma teoria que faria sentido se eu não fosse lésbica e ela, linda. Não era exatamente por não curtir ela que eu não chegava perto. Era por sentir atração.
— Não tenho nada contra você — Falei, e dessa vez alcancei ser mais sincera, mesmo que isso tenha sumido um pouco quando ela voltou a ficar frente a frente comigo. A luz do cômodo invadindo as nossas verdades e revelando-as.
— Então o que é? — Quis saber e eu desviei o olhar. Quando ela trouxe de volta eu não consegui resistir e toquei sua boca na minha. Senti pela primeira vez depois de muito tempo sonhando com aqueles lábios que tinham o gosto do leite condensado presente em seu drinque. Era um soco no estômago. Rápido, impactante, doloroso, se não fosse consciente.
Eu sentia em cada movimento de nossas bocas urgência e vontade. Gostoso, surreal e com uma dose exata de surpresa e certeza. Sua boca tinha que estar na minha, mas nada me faria entender como ela não tinha interrompido aquilo e me dado um tapa.
Bem pelo contrário. Ana me segurou timidamente pelo queixo e se deixou aproveitar cada minuto daquele contato que apesar de ávido não era rápido. Sentimos o beijo todo até finalmente nos separar ofegantes.
— Desculpa — Falei em seguida. Mas talvez meu lamber de lábios não me ajudou no disfarce.
— Não por isso — Falou encarando minha boca de novo daquele jeito de quem queria de novo e ia me instigar sem dizer com palavras.
— Não podemos — Eu falei. Ela tinha uns dias de solteira e não era ideal sair beijando conhecidos nessa fase de querer experimentar tudo, todos e todas. A gente se veria numa próxima saída e o clima ficaria ruim.
— Não podemos, não é não queremos. Você arranja desculpas demais para quem me quer faz tempo — Ela falou, me pegando desprevenida — Eu sei que você reparava em mim, Yasmin. E eu quis ficar com você no momento que percebi o teu interesse. Todos os nossos amigos comentam como as mulheres não resistem a você e isso atiçou a minha vontade ainda mais…
Eram coisas demais para assimilar, mas acho que sabendo que ela queria, principalmente e naquele momento, eu achava que poderia deixar o resto para depois. Ela tinha razão, eram objeções demais para quem queria dar uns beijos.
E se tinha uma coisa que eu era contra era burocracia para dar uns amassos. Por essa razão, fazendo jus a uma fama que eu nem sabia que tinha, puxei a mulher de volta e iniciei um outro beijo muito mais seguro.
Minha língua invadiu a sua boca e, tocando a ponta da sua, deixei por poucos segundos que absorvêssemos o choque daquela corrente que corria entre nós duas. Era uma eletricidade inconfundível, algo de quem sentia-se eminentemente atraído e foi por isso que me deixei levar.
Desci a mão para sua cintura e Ana foi mais incisiva levando-a até sua bunda, permitindo que eu apertasse as duas bandas expostas pelo shorts curto nos meus dedos. Dei um leve tapa pelas provocações anteriores e depois apertei trazendo para mim.
A mulher ofegou nos meus braços e sorri em triunfo sob sua boca vermelha, me deliciando com o prazer que estava proporcionando e o qual eu não sabia onde pararia. Ainda mais quando a menor parecia estar nos conduzindo a um outro espaço.
De olhos fechados eu percebi o que ela estava fazendo, um trinco fez barulho de abrir e em ato seguido me vi em um cubículo de quatro paredes reduzidas, sendo devidamente empurrada até que estivesse sentada para que Ana sentasse em cima de mim.
— Você é louca — Eu disse no meio do beijo, mas não impedindo nada dessa vez. Era uma posição bem cômoda: uma mulher bonita, sedenta, me deixando no limite do fôlego enquanto sua mão acariciava minha nuca.
— Quero sentir o que você sabe, se esses dedos são tão habilidosos em fazer uma mulher gozar como eu preciso há tempos… — Sem querer ela deixou entrever que o babaca não a satisfazia? Deixou, mas isso não era um problema. Se até ali ela quisesse ir, eu facilmente a acompanharia.
— Tira a roupa. Só vou fazer você gozar se estiver com a boca nesses peitos — Falei baixinho no seu ouvido, mordendo o lóbulo depois para que seu corpo se arrepiasse. Percebi em sua nuca que havia obtido o desejado e por isso distribuí beijos por ali enquanto Ana abria o botão do shorts.
A ajudei a descer cada peça apreciando e beijando a pele exposta enquanto estava de pé, até que voltasse a mim totalmente desnuda. Sua pele era ainda mais bonita totalmente para admiração.
Era uma tela pintada a mão cuja tinta não seria acertada por nenhum artista. Ainda sim eu tentaria desenhar sem nenhum pincel cada curva perigosa. O traço do seio avantajado, as auréolas marrons, o quadril fino e a boceta melada de prazer, que se encaixou perfeitamente nos meus dedos assim que ela voltou para o meu colo.
Entrei nela olhando cada reação do seu rosto. O gosto de sentir a ponta dos dedos, os olhos fechando, a boca formando uma letra “o” perfeita e por fim, eu por completa ali. Presa no interior quente que envolvia meus dois dedos.
— Gostosa — Sibilei e firmei suas ancas com uma mão enquanto abria a boca de golpe para abocanhar um de seus seios, a outra livre indo para o outro, que clamava também por mim.
Eu controlava os movimentos que aconteciam dentro. Cada subida, cada descida, tudo passava por um ritmo que eu controlava por inteiro. Começava com meus lábios chupando os biquinhos, sugando, deixando um certo barulho delicioso escapar enquanto eu transformava seu seio no meu sorvete favorito.
Depois, a mão esquerda em seu seio. A maneira que eu o beliscava com meus dedos em formato de pinça, deixando a ambiguidade da dor e o prazer percorrer sua pele inteira. Para terminar, tinha sua boceta. Aberta para mim, Ana permitia que eu a penetrasse até que eu estivesse inteiramente dentro. Sua lubrificação lambia meus dedos, me deixava louca e me levava a tirar mais dela.
Queria o seu ápice, sua liberação, que me desse o resultado daquela dança que me envolveu há um tempo. Que fosse em cima e abaixo sob o eixo dos meus dedos até que tivesse tudo.
Quando senti os espasmos virem sobre a circunferência que era feita em volta do meu dedo comecei a masturbá-la com o dedão, subindo meus beijos até sua boca novamente. Olhei uma gota de suor correndo da pele dela, lambia-a e conduzi a símile do calor salgado até a ponta da sua língua.
— Goza para mim — Mandei e, suprimindo seu grito, fiz aquela mulher gozar desesperadamente sobre mim. Segurei os espasmos da sua pele e devagar, até que se acalmasse, acariciei suas costas. Passando de uma masturbação rápida a um carinho quase delicado no ponto rígido.
— Porra — Ela disse, somente e sem um discurso sobre, começou a me despir. Eu, como em toda noite, até tentei, mas não consegui dizer que não. Deixei que ela tirasse minha blusa e em seguida minha calça, colocando minhas vestes junto às dela que estavam numa prancha acima de nós na cabine.
Quando fiz menção de me sentar novamente, ela negou. E pequena como era, mas também decidida ao mesmo quanto me colocou literalmente contra a parede, beijando meu pescoço.
Levantei as mãos para o alto em sinal de que me rendia e ela riu um pouco antes de começar a explorar meu corpo como queria. Deixei que ela fizesse o que queria com meus seios, que minha pele fosse sua escultura e que me moldasse.
Ana construía as formas que queria sobre mim. Apertava, delineava e eu me deixava ser a arte que quisesse. Ela beijava a minha pele, marcava meu pescoço e descia devagar sugando meus seios.
Ana era ávida e demonstrava todo o desejo desperto naquela noite. Não procurava por reservas, pelo contrário, exercia sua intensidade toda vez que abria e fechava o cerco sobre meus mamilos. Primeiro o esquerdo e em seguida, o direito.
Trilhou, após um caminho de beijos lentos pela minha barriga, que desembocaram em minha boceta a qual ela começou a chupar. Ana abriu os meus lábios e assim que eu estava exposta, ela me encarou com seus olhos claros.
Era quase como se me ironizasse. Como se estivesse debochando de todo tempo em que imaginei que ela não queria. Como se falasse que me queria desde o momento que começou a dançar em minha frente.
E assim, nesse contexto, chupou-me. Sugou meu clitóris com a luxúria requerida. Como uma pessoa faminta em busca de um alimento, sendo eu mesma a responsável por fornecer meu gosto direto em sua língua.
Ana absorvia-o ao mesmo tempo que também usava sua mão para me penetrar. Eu tinha o melhor dos dois mundos e tudo que podia era fechar os olhos e esperar que minha boca não falasse da beleza que meus olhos viam, de forma que cada centímetro daquele prazer se traduzisse em gemidos.
Foi como se fogos de artifício tivessem explodido dentro de mim quando senti a sensação. Tudo parou em pouco e o único barulho que adveio foi da expansão daquela pólvora silenciosa que era gozar na boca daquela mulher, que me segurou pela cintura do início ao fim daquele delicioso estouro.
Gemi mordendo o lábio interior para que não chamasse a atenção, mas em seguida reciprocamente recebi sua boca escondendo nossa loucura quase pública. Ana me beijou e absorveu cada segundo restante até que o gozo se esvaísse de mim deixando a consciência de um devaneio recente em meus lábios.
Pisquei ainda algumas vezes segurando meus lábios, em um segundo de incredulidade do que e como aquilo tinha acontecido, eu me imaginei abrindo as pálpebras e encontrando-a ainda dançando num desejo distante.
No entanto, quando voltei a luz ela ainda estava lá com um sorrisinho sapeca que não se desfez nem quando ela me deu um último selinho antes de começar a colocar sua roupa.
Se íamos ficar de novo, eu não tinha ideia. Se ela iria voltar com o namorado imbecil, se o clima ficaria ruim, se aquilo daria para mais… Mas por uma noite me deixei confortável com as incertezas.
Eu, que sempre quis ter controle das coisas, concordei que só por um momento me entregaria a hipnose dos seus olhos verdes e também à arte de perceber que o escuro poderia esconder, mas a claridade sempre revelaria a atração mais disfarçada…
Conto erótico by Letícia Araújo (@Leteratura__)