Pela boca
Eu simplesmente não suportava mais minha chefe, Carla Diaba Domingues, pois absolutamente tudo o que eu fazia para aquela mulher parecia não estar suficientemente perfeito.
“Paloma, a massa está seca”. “Agora está fofa demais”.
“Seu glacê está muito doce”. “Agora está muito aguado”.
Aquela mulher conseguia fazer com que trabalhar como confeiteira num dos bistrôs mais importantes de Gramado fosse uma tarefa demasiado amarga, e provava que cada dia poderia ser ainda mais, principalmente quando liberou todos mais cedo em plena sexta-feira, exceto eu.
– Excelentíssima filha da puta – Resmunguei na cozinha enquanto começava a esfregar o chão do local fechado com uma raiva incontida.
– Disse alguma coisa? – Perguntou passando pelas portas enormes e vindo até mim. Não contando, entretanto, com o fato de que o chão próximo a meu corpo estava molhado, o que a fez escorregar. Nisso, muito embora ela merecesse que eu a deixasse cair, a segurei com meus dedos cravados em sua cintura fina.
Definitivamente o que aquela diaba tinha de irritante tinha de linda, suas curvas suaves nos vestidos que desfilava todos os dias da semana foram uma vez ou outra, o motivo das minhas receitas quase desandarem completamente, mas antes morta que admiti-lo, não só pela sua arrogância, mas pela fama de que quebrou mais corações femininos do que poderia contar.
Isso mesmo, não obstante de ser uma criatura estonteante, tinha os mesmos interesses que eu, o que fez eu me encantar no primeiro momento antes que falasse comigo, ou melhor, reclamasse.
– Me solte – Demandou ríspida, e o fiz, deixando dessa vez que caísse no piso duro porque era isso que merecia por mal agradecida.
– Acho que não entendi bem! É a forma de dizer obrigada aqui em Gramado? – Eu era da Bahia, então me aproveitaria disso para desdenhar um pouquinho.
– Não quis dizer obrigada. E você entendeu bem, ou além de tudo é sonsa? – Perguntou, tentando em vão se levantar com o sabão atrapalhando e ficando frustrada enquanto eu apenas ria da megera em apuros.
– Além de tudo o que? – Perguntei inquisitivamente, por mais minha chefe que fosse, estava longe de ser quem ia controlar minha boca, ao menos que fosse com a sua bem caladinha.
– Além de uma confeiteira meia boca, é arrogante – Um segundo antes eu até havia estendido a mão, entretanto, diante desse comentário decidi retirá-la no momento preciso que ela a atingiu. Nisso, e sem o amparo firme, acabei escorregando também e caindo desajeitadamente por cima dela.
– E você é uma mal educada de nariz em pé – Respondi, com seus olhos negros nos meus, me encarando.
– Insolente – Retrucou com raiva, centelhando neles, intensa e pungente.
– Pedante – Devolvi, imprimindo nos meus olhos claros o mesmo ardor daquele sentimento que queimava como fogo em minhas entranhas, uma raiva que soava a um tesão desenfreado.
– Atrevida – Falou, com o peito subindo e abaixando abaixo de mim, me confirmando com seus suspiros que estava longe de ser raiva, ainda mais quando segurou-me forte pelas cordas do avental.
– Gostosa – Disse por fim, tomando seus lábios nos meus com irritação, um pouco de ódio e muita excitação. Minha chefe correspondeu com a mesma fome agarrando com mais força meu avental conforme eu afastava suas pernas com uma minha, já procurando dar-lhe alívio.
– Se me tocar aí eu vou brigar com você – Disse, com desejo expresso em suas palavras, me fazendo confusa em seu jogo.
– E se eu não tocar? – Perguntei em seu rosto suave.
– Você estará demitida – Ótimo, se brigar com ela me desse metade disso, eu poderia conviver com seu mau humor.
– Sua sorte é que eu gosto muito de fazer bolos – Falei, rasgando sua calcinha fina com habilidade e ouvindo um arfar debaixo de mim.
– E por que tanto? – Perguntou, fazendo suas mãos saírem da segurança da base do meu avental só para correr pelas minhas costas.
– Porque os bolos são mais agradáveis que certas pessoas – Falei contra seus lábios e ela me beijou, exigente com as mãos pousando em minha bunda, sua língua desafiando a minha, lutando contra ela como se fossem inimigas, e éramos. Eu tinha vinte e uma razões para não querê-la perto e apenas uma para mantê-la: a sua maldita boca era como comer um bolo inteirinho de chocolate, era irresistível, macia, e a cada mordida parecia ainda melhor, pois derretia na língua e nos lábios em forma de excitação.
– Você fala como se fosse um exemplo de agradabilidade… Enquanto é completamente parecida a uma selvagem – Ah, eu poderia rir um dia inteiro disso, mas preferia mostrar o quanto eu poderia ser ainda mais selvagem.
Não perdendo a conexão com seus olhos eu comecei a penetrá-la devagar, com meus dedos acompanhando como seus olhos iam pesando até que se fechassem, no segundo em que liberou um suspiro fundo.
– Sou selvagem demais para você? – Falei, quase retirando os dedos, mas ela fechou as pernas em volta deles os mantendo quietos dentro da sua intimidade úmida que pulsava em meus tendões.
– É sim. É a mulher mais indelicada que eu já me senti atraída e, por causa disso, eu só consigo pensar em dizer coisas horríveis para você e depois foder com ódio. Faz sentido para você? – Perguntou quando eu comecei a mover meus dois dedos em sua cavidade macia, me deliciando de como eu deslizava dentro do seu calor, espalhando o cheiro de sexo por toda cozinha.
– Mais do que eu gostaria – Avisei, percebendo como buscava meus dedos com os quadris, e decidi constatar se sua intimidade era mais surpreendente que sua boca. Assim, com beijos ferozes descendo pela garganta, fui me encaminhando para onde seu vestido acabara de ser levantado.
Ela se arrepiava baixo meu toque e seus suspiros ficavam altos conforme eu atingia a base do vestido, o retirando pela cabeça bem devagar.
– Se você fosse um pouquinho menos impertinente seria a mulher mais linda que eu já vi – Falei, encarando com a boca seca a beleza da sua pele coberta com um sutiã vermelho com lacinhos. Que maldita!
Suavemente vou me aproximando do fecho frontal e o abri com os dentes, sem deixar de encarar sua boca aberta quando realizei esse ato. Me aproveitando disso, já coloco meus lábios em cima de um seio, aumentando a intensidade dos meus dedos brincando dentro dela, num entra e sai mais veloz que acompanhava minhas sugadas em seu mamilo eriçado.
– Paloma… – Ela disse num tom muito sexy, e eu fiquei molhada instantaneamente com sua voz melodiosa e como seus dedos se instalavam em meus cabelos, os puxando e tentando conduzir o ritmo mal sabendo que eu não obedeceria.
– Eu não sou como as outras que você já transou, então não venha achando que controla algo aqui – Eu disse travando meus olhos com os seus, e ela assentiu repetidas vezes.
– Você nunca será como ninguém, porque é total e unicamente uma metida – Estalou, me fazendo sorrir diante do fato de que não conseguíamos nos elogiar sem terminar com um insulto no meio, e muito se devia a mútua capacidade de dar o braço a torcer quando o assunto era a outra. Ela veria o quão única eu poderia ser.
Incentivada por sua latente necessidade, espalhei beijos por baixo dos seus seios, traçando um caminho molhado por suas costelas, desenhando com a língua cada uma delas até chegar próxima do seu ponto mais sensível, parando em sua cintura que raspei os dentes.
– Peça com jeitinho e farei da maneira inesquecível que você sabe que eu posso – Declarei, e ela me olhou incrédula pelo o que eu disse, talvez me dando a chance de voltar atrás, o que eu não faria.
– Não – Foi enfática e retirei meus dedos quase por completo sob suas repreensões que não levei em conta – Nunca – Completou, ainda me fazendo sorrir por sua teimosia que custou meu contato em sua pele, pois retrocedi completamente.
Quando meus dedos estavam completamente fora, ela me fitou com os olhos faiscando enquanto eu me levantava, a deixando ali no chão, deitada, rendida e com a revolta perpassando sua pele como uma fina camada de suor brilhando sob a luz prateada que escapava de uma claraboia que a fazia parecer uma deusa pagã em toda sua lascívia.
– Que porra é essa? – Perguntou, e eu apenas neguei, me encaminhando ao balcão onde me apoiei.
– Peça-me – Falei, mantendo meu autocontrole até o segundo em que Carla decidiu levantar-se, vindo em minha direção em seus saltos altos, completamente nua e melhor equilibrada no chão já seco.
– Eu nunca implorei por nenhuma mulher na minha vida, você não será a primeira – Falou apontando um dedo contra o meu peito, que utilizei para puxá-la para mim num tranco encostando no balcão levantando uma perna sua no ato.
– Carla… – Falei, e ela tomou meus lábios nos seus, a beijando-me ao mesmo tempo que eu penetrei-a novamente ao mesmo tempo.
Ela não ia ceder, mas eu também não estava fazendo-o. Só estava mostrando-a o quão única eu poderia ser. Retribuiu curta, fazendo ruído assim que meus lábios se afastaram dos seus para que eu começasse a chupar seu pescoço com sensualidade.
– Não se preocupe, minha onça. Eu saberei mantê-la mansa, prometo – Entreguei no seu pescoço e refiz novamente todo o caminho de outrora, sentindo o salto alto machucando minhas costas quando apoiei sua perna em meu ombro com a finalidade de tomar o melhor ângulo quando começasse a chupá-la. E o fiz.
A chupei como nunca antes com ninguém, com fome, com irritação, exigindo ser a melhor que já o fez conforme ela bagunçava meus cabelos. Minha língua caminhava na direção de sua entrada e meus dedos massageavam seus clitóris com precisão, com toda minha experiência e desejo.
Quando escutei seu primeiro gemido soube que precisava ter mais desse som, então me empenhei ainda mais, lambendo em todo lugar que não chegavam meus dedos. Assim que a fitei desde onde cadenciava meus dedos impertinentes, tive a visão dela estimulando seus seios belos e parei no que meus olhos me presenteavam, naquela cena impressionante, voltando apenas um segundo depois, quando sua intimidade pressionou meus dedos que entravam e saiam de dentro dela. Muito perto.
Puxei seu clitóris entre meus lábios com suavidade e segurei seu corpo, que quase pendeu sobre o meu quando o orgasmo a atingiu intensamente. Me embebi de cada uma de suas reações até que cessassem e, depois, tornei a ficar ereta encarando seus olhos pesados de desejo. Antes, entretanto, com suas coxas ainda em meus dedos, passei meu toque até o salto, tirando de seus pés com todo cuidado.
– Não vai precisar deles para me retribuir. Suponho até que sequer precisará ficar de joelhos – Provoquei, e ela fez menção de me chutar, o que eu previ com uma risada, imobilizando-a antes que ocorresse.
– E quem te disse que eu vou retribuir? – Perguntou-me, olhando desde mais baixo agora. Eu nunca a obrigaria nem por um segundo a fazer algo que não quisesse, mas sabia que queria. Me confirmou isso um segundo depois.
– Eu odeio… – Falou, me empurrando até que eu atingisse um banco no canto da cozinha – Que você estava certa – E então ela me deixou saber que eu havia alcançado meu objetivo, havia sido inesquecível. Minha autoestima flutuou pelo ambiente até voltar a pousar sobre mim no momento em que
Carla se sentou sobre minhas pernas, tocando a base do meu avental – que tirou de uma só vez, como fez com meu uniforme, fazendo alguns botões voarem para perto do seu vestido.
– Você sabe que terá que me dar outro. Não sabe? – Perguntei, a ajudando a tirar minha calça que saiu com calcinha e tudo.
– Você rasgou minha calcinha. Estamos quites agora – Avisou, me olhando de baixo, encarando meus seios cobertos por um sutiã rosa.
– Rosa é sacanagem – Xingou baixinho e logo depois se encaminhou para as minhas costas para abrir o fecho da peça, não se dando conta que acabou me abraçando naturalmente naquele ato. Quando o sutiã também foi ao chão, ela fez menção de se afastar mas segurei sua cintura e ela se deixou tocar por mim daquela maneira por mais tempo. Mas não tanto quanto eu gostaria, pois, desfez o enlace me encarando.
– Abra as pernas – Demandou e eu o fiz sem retrucar, o que fez um sorriso brotar dos seus lábios.
– Calminha… Vai ser rápido, prometo – Disse, e me controlei para não demonstrar o quão excitada estava.
– Eu nunca gozei rápido – Deixei claro, soltando seu coque frouxo e empunhando seu cabelo nos meus dedos, ato que ela negou.
– Porque nunca esteve comigo. E isso é suficiente garantia para que seja não só rápido, mas também fácil – Garantiu-me, abalando um pouco com sua segurança e o dedo que correu sobre nós duas, encontrando destino entre minhas as minhas pernas que a receberam com sofreguidão.
– É muito melhor do que eu pensei. É muito mais molhadinha e quente – Disse se aproximando do meu ouvido, lambendo logo atrás dele. Ela pensou em mim assim? Como eu já havia pensado nela.
– Esse era o motivo de eu viver reclamando com você, desde que eu me deparei com esses olhos ridiculamente azuis e senti uma necessidade física de apertar as pernas, soube que precisava ter você – Entregou, procurando o ritmo perfeito para arremeter dentro de mim conforme sugava o lóbulo da minha orelha na mesma velocidade, coordenando ambos movimentos para estimular todos os meus sentidos a mesma vez.
– E por que não quis se aproximar até hoje? – Começava a suspeitar, inclusive, que estava envolta numa deliciosa armação. Pelo óbvio. Eu sou sua chefe, só que uma hora masturbar-me não foi mais uma opção – Falou, girando seus dedos dentro de mim, buscando com afinco o que eu não sabia, só até sentir passando como corrente em meu corpo com apenas um toque. Isso e meus pensamentos voando até ela se masturbando pensando em mim, me levaram até muito perto do ápice.
– Isso mesmo. Eu, Carla Domingues, busquei em todas as mulheres, todo esse tempo, tirar você da minha cabeça, mas não importava se era uma morena ou uma ruiva, seus cabelos loiros sempre vinham a minha mente e terminava frustrada e com tesão que só curei na sua língua – Continuou, declarando, e não demorou muito tempo, meu corpo ondulou sobre seu toque absorvendo suas palavras sensuais, as situações descritas, conforme ela se abaixava até estar de joelhos no chão – Eu imaginava seu gosto. Eu só queria saber como era – Confessou também e me tomou com sua língua me fazendo gozar sobre ela numa rapidez surpreendente.
Carla cuidou de tomar cada partícula da minha excitação, me levando ao ápice algumas vezes até que eu estivesse rendida sobre a cadeira.
– Fácil – Ela tinha razão, era tão intenso quanto rápido e eu estava exausta.
– O que está fazendo? – Eu disse assim que ela começou a recolher suas roupas espalhadas pelo chão.
– Foi o sexo mais incrível da minha vida – Disse, me soprando um beijinho – Mas eu tenho que ir – Disse sem me olhar, e eu me levantei ainda meio trêmula tomando apoio no balcão, onde acompanhei como se inclinava para amarrar as tiras dos seus saltos, me aproximei de suas costas, grudando meu corpo ao seu.
– Tem que ir ou teme ficar? – Perguntei, acariciando sua pele, gostando do contato depois do sexo, mais do que deveria.
– Eu… – Ela não repetia mulheres, mas cansei de provar que não era como as outras, faria isso outra vez. Me inclinei na direção do seu rosto e, quando ela abriu seus lábios, quase me detive.
– Eu não beijo depois do sexo – Disse, quase porque a virei nos meus braços e a abracei encaixando minhas mãos em suas costas, negando a aceleração que ela quis impor ao nosso beijo e imprimindo toda a doçura que um dia ela já me negou por seu medo, com minha língua bailando lento na sua, parando depois de uma volta.
– Amanhã na minha casa ou na sua? – Perguntei, depois de nos separar com selinhos, com nossas testas unidas e corações a altura um do outro.
– Na minha – Enfatizou, com todas as suas barreiras no chão, e soube que aquela sexta-feira terrível havia me revelado a melhor das surpresas: eu não só seria a primeira que a levaria para cama pela segunda vez, mas seria a única, mais única do que pensei, porque eu tinha atingido Carla, pela boca…
Conto erótico by Letícia Araújo (@Leteratura__)