Eu e ela
Havia sido um dia daqueles que prefiro esquecer. O computador da empresa deu pau, fiquei horas tentando uma resolução porque a central técnica estava pouco se fodendo e na volta para casa tive que tomar somente o terceiro Uber que ainda, como pouco, me deixou faltando duas quadras para meu destino numa noite de chuva.
Quando atingi a porta do apartamento eu queria gritar de frustração e não ver mais ninguém tanto que passei da sala ao banheiro sem sequer cumprimentar a minha namorada que estava sentada no sofá lendo seu trigésimo romance da Colleen Hoover.
— E o meu boa noite? — Perguntou depois de ver que eu estava na porta do cômodo.
Não era maldade sua, mas eu sabia que houve a intenção de me fazer cumprir quase todo trajeto e perguntar no último segundo só para me “castigar” por ter esquecido do seu beijo. Era vingança e teria volta.
Com os seus braços abertos e olhos azuis sempre brilhando como gotinhas indeléveis de oceano, ela me sorriu quase tão abertamente quanto seus dois braços curtos. Sem perceber e embora não tivesse em mim a maior vontade de fazê-lo eu involuntariamente espelhei o ato, me deixando abraçar pelo seu corpo cálido depois que ela colocou sua leitura de lado.
— Boa noite — Falei envolvendo meus braços ao redor de sua cintura enquanto recebia suas duas mãos em minhas costas. Sabíamos onde ela pararia pelo seu hábito incorrigível de manter as mãos em meu bumbum sempre que tinha a oportunidade.
— Que boa noite fraco para quem ficou te esperando voltar — Pontuou descendo as mãos como previsto e apertando as bandas nos seus dedos. Era sua forma de demonstrar carinho depois de um dia que passávamos separadas.
— Boa — Disse esfregando seu nariz no meu, criando na lentidão do ato uma deliciosa expectativa de beijo — Noite — Complementei me aproximando da sua boca rosada e carnuda, resistindo no segundo final em colar nossos lábios e desviando a rota para sua bochecha.
A deixei de olhos fechados e com um suspiro que só não indicava que ela amaldiçoou todas as minhas próximas gerações porque certamente seriam as suas também.
— Você sabe que um beijo e um copo de água não se nega a ninguém né? — Perguntou e eu vi no abrir de suas pálpebras o despontar de uma deliciosa tensão entre nós.
— Sim — Ainda tive a audácia de confirmar, mas não o suficiente ainda para fazer isso e ficar em seu colo. Assim, falei e corri numa velocidade absurda que provocou em mim mesma uma gargalhada que tinha começado num sorriso fino.
— Vai ter troco — Ela disse me seguindo até a porta do banheiro e também rindo. Eu poderia tê-la trancado e “garantido a minha segurança”, entretanto, prevendo o quão gostoso seria estender aquela faísca permiti que chegasse até mim.
— Tenta sorte — Rebati começando a tirar minha blusa de botões.
Nesse momento, apesar de ser seu turno de fala, a mulher de cabelos negros e médios diante de mim se calou. E não era por não ter palavras, eu sabia pelo tanto que lia que conhecia muitas, mas o fazia só porque estava contemplando-me.
Pela sua íris eu tinha uma ideia do que tanto chamava-lhe a atenção: Eu não era muito de academia, muito pelo contrário, mas mantinha certo condicionamento devido às corridas que fazia todas as manhãs desde os quinze anos.
Tinha 1.70 de altura, cabelos até o meio das costas naturalmente loiros e olhos negros perfeitos para observar como ela me desnudava até antes de mim.
A primeira peça que me livrei foi a camisa preta e em seguida a calça de linho, restando-me um meia taça e uma calcinha que terminava um conjunto azul que usava. Não era dos mais novos, mas fazia parte da magia da intimidade desconsiderar detalhes supérfluos quando o assunto é estar dentro do outro.
Portanto, sem me importar com mais nada, segui com minha lingerie somente até dentro do boxe do banheiro, percebendo apesar de não ver o seu olhar me queimando descaradamente.
— Algum problema? — Provoquei arrastando o vidro para que ficasse entre nós. Reagindo ao meu transe, fosse pela possibilidade de estar longe só um centímetro ou pela pergunta, ela tocou a barra do próprio pijama.
— Nenhum — Confirmou para dessa vez devolver, deixando-me boba com seu corpo lindo: Pés delicados, coxas naturalmente grossas e uma cintura perfeita para ser puxada sempre que viesse à vontade. Tudo nela parecia moldado a mão, no entanto, uma parte em específico era a responsável por ser o objeto de minha perdição.
Seus seios fartos sem qualquer resquício de procedimentos estéticos motivaram em mim um salivar instantâneo. Alvos, redondos e cheios levariam qualquer um a porra ao inferno por toca-los. Era o que eu sentia que faria agora que ela demonstrou estar sem e todas as vezes.
— E com você? — Questionou tirando o short do conjunto para exibir sua parte íntima igualmente perfeita logo em seguida. Ela não queria que eu tivesse nem um único momento de fôlego.
— Tudo ótimo — Menti depois de um tempo balançando a cabeça para recuperar a atenção e a compostura, sem ter sucesso em nenhuma, foi claro.
Seria fácil ter um foco na verdade. Eu era uma das pessoas mais concentradas que conhecia para tudo, o único problema, era que ela sabia como me deixar desesperada por chupa-la.
Com seus pelinhos retos e baixos, lábios irregulares e um clitóris saliente eu era praticamente empurrada pelo meu desejo ao precipício de querê-la em minha língua.
— Tudo bem? — Ela quis saber totalmente consciente de que não estava. Agora quem estava bem “irritada” era eu.
— Nunca esteve melhor — Faltei com a verdade e como “punição” recebi ela passando pertinho de mim esfregando sua bunda de leve no meu quadril somente para acionar o chuveiro.
Sendo completa escrava do tesão que senti no contato de sua nádega com a minha boceta eu decidi me aproveitar da nossa diferença de altura e peso para pará-la no lugar.
Assim, segurei sua cintura ficando as mãos uma em cada lado e, em seguida, apertando-a. Ouvi uma risadinha quase inaudível ser proferida e sabia que tinha perdido. Apesar disso, era a primeira coisa “ruim” hoje que tinha um bom gosto.
Afastei uma parte de seu cabelo para um lado do ombro e encostando seu corpo até que estivesse há pouca distância dos azulejos brancos do banheiro cheguei com a boca perto do seu ouvido.
— Você é uma filha da puta, sabia? — Sussurrei apertando sua carne com a pressão necessária para que seu corpo ficasse arrepiado sob meu tato.
— Falei que teria troco – Foi como se defendeu começando a rebolar contra o tecido fino da minha calcinha. Seu movimento era devagar e preciso num tanto que era até obsceno. Quis gritar com raiva, mas comprimi o som por risco de acabar gemendo.
— E quem disse que o jogo acabou? — Não me dei por vencida e a principal prova que dei acerca disso foi retirar uma mão da cintura e colocar na dela para que finalmente a espalmasse na parede em frente a nós — O que é os seus tronquinhos perto das toneladas de desejo que você sente agora por mim? Você cai mais fácil — Falei arrogante baseando-me nos argumentos fornecidos pelo próprio corpo dela.
— Não caio — Devolveu intensificando as próprias reboladas contra mim. Respirei fundo assim que aconteceu e, a fim de estender aquela fagulha entre nós, reuni a força suficiente para simplesmente impedir que seguisse.
— Eu provo — Deixei claro começando uma língua como forma de começar a envolvê-la pelos sentidos. Com a ponta comecei a recorrer de trás de seu ouvido até o pescoço, tomando aquele ponto como um novo lugar estratégico para tê-la ao meu gosto.
Sem oferecer resistência ou dizer que não, afinal adorava o meu jeito de tocá-la, ela não insistiu em mudar o ritmo, preservando o meu ideal de degusta-lá lentamente com isso.
Por essa razão tomei uma mão sua e espalmando-a na parede conclui o início do meu plano ousado.
— Abre as pernas para mim — Demandei acompanhando com o olhar como ela obedecia sem questionar meus atos, desfrutando deles. Ela queria recair e nós duas sabíamos que era o início de uma queda em dupla. Num jogo que envolve desejo, ambos jogadores sempre saem afetados.
Dominada pelos efeitos da minha excitação tomei a abertura recebida tocando com a ponta dos dedos do início da sua coxa até próximo da sua parte íntima.
Nessa altura sua respiração começava a ficar irregular de uma forma que ela não mais controlava. Era como tinha que ser e estava entregue a mim. Não faria menos do que dar-lhe tudo.
Logo, quando atingi sua boceta usei dois dos meus dedos para provocar a entrada que se apresentou molhada com toda nossa troca anterior. Ela estava excitada e não havia como esconder.
Me aproveitando daquela delícia ofertada a mim como um manjar a um deus colhi com somente os dedos um pouco daquilo e levei até meus lábios, marcando-a em mim e sorvendo em seguida.
Ela acompanhou tudo aquilo por cima do ombro frustrada pelo afastamento do toque, mas ao mesmo tempo curiosa pelo que faria com ela agora que a tinha.
— Quer sentir seu gosto? — Questionei vendo sua admiração e vontade. Ela respondeu prontamente que sim então dei em sua boca meus dedos para que chupasse, emendei a sua sucção com um beijo sedento.
Nossa línguas entrelaçaram-se e a minha ocupou espaço sobre a dela, enroscando luxúria e desatando em um sôfrego que ascendia lentamente como um avião em decolagem.
Senti seu arfar e segurei-a, acho que nós duas éramos conscientes do quão primitivo isso era e íamos por mais explosões do que as que exigiam nossos corpos.
Finalizamos o enlace com mordidas nos lábios e sabendo no seu gosto total qual era sua gana eu desci os dedos novamente desenhando a mesma linha imaginária de outrora até finalmente atingir o seu sexo.
Dessa vez, no entanto, não brinquei com seu tesão e ao chegar em sua entrada adentrei-a, meus dedos sendo abraçadas pelo interior em brasas que parecia querer comer-me quando me levou dentro.
Seu gemido alto veio em reação à meu toque incisivo e me deixei levar completamente extasiada por aquele som, sabendo que dele queria mais e mais até o gozo.
Assim, comecei a me mover de dentro para fora de início bem devagar. Suas objeções, assim, não demoraram a aparecer.
— Forte — Ela disse de olhos fechados enquanto eu harmonizava minhas estocadas com beijos pelo seu pescoço. O cheiro que tinha ali começando a se misturar com um filete de suor que também traguei. Tudo nela era gostoso e eu a beberia por inteiro.
— Seu pedido é uma ordem — Obedeci prontamente imprimindo mais vontade no que fazia, entrando e saindo de sua boceta com a facilidade que vinha com a lubrificação.
— Assim… — Validou quando em um só ritmo eu arremetia contra seu corpo, colando suas costas aos meus seios, sua bunda aos meus quadris e o estopim em nossos desejos.
Percebendo que aquilo traria muito prazer mas entendendo que ela precisava de mais para seu ápice ela começou a tocar ela mesma o próprio clitóris que já se encontrava rijo.
Ela o tocava com rapidez, sem qualquer pudor ou receio de parecer desesperada porque sabíamos que nosso prazer era o que mais queríamos sem que nada mais importasse.
— Goza para mim — Mandei.
Era tanta loucura, desejo, sensações no seu limite que quando ela atingiu o dela foi totalmente segurada por mim. Sua perna ficou trêmula, ela gemeu e se apoiou sobre meu ombro sorrindo com os cabelos negros caídos no rosto.
Linda. Mulher. Completamente irresistível. Renoir jamais pintaria semelhante beleza, ainda mais quando seu abatimento pela intensidade virou logo em sequência a expectativa de devolver o ofertado.
— Quero foder você — Anunciou e com sua carinha vermelha do gozo eu aceitei, libertando-a do meu abraço para que fizesse de mim o que bem entendesse. Ela havia sido minha e mais sua do que tudo era o que eu queria.
Éramos o significado expresso de que era possível se doar para uma vontade mútua e ainda no mesmo paralelo ser sua. Éramos mais nós nos amando com aquele sôfrego.
— Me come — Falei próxima da sua boca, poucos segundos antes de que ela me pegasse pela cintura para que minhas costas tocassem no azulejo.
O frio se espalhou pelo meu corpo prontamente, mas o contraste da parede com sua boca que começava a lamber meu pescoço tornava aqueles contrastes o ponto crucial para um orgasmo agudo e lépido.
Eu estava preparada, tinha prazer em ter dedicado então somente um toque me levaria até o céu que com toda certeza começaria na sua língua deliciosa.
Macia, firme e habilidosa, ela me comia como eu pedia. Me comia no beijo, na mordida, e em cada marca que deixava do meu pescoço até os meus seios.
Neles, aliás, começou a acariciar com selinhos rápidos, mas só até o momento em que eu deixei meu gemido. O meu som, como o dela, deixou-a em um estado próximo à irracionalidade.
O poder de uma fêmea sabendo do que gosta causa uma aproximação com o animal que nos leva ao extremo do selvagem.
Eu assim me defini sob a primeira sugada que deu em meu mamilo e que seguiu uma sequência surreal delas. Ela os levava nos lábios e soltava-os de uma vez causando uma pequena dorzinha que compensava chupando novamente.
Me perdia em seu contato e deixando se fazer grande em mim uma urgência que me levaria a implorar sem nenhum pudor.
— Eu preciso gozar — Choraminguei para ser atendida e assim foi.
Levando minha súplica em consideração, ela não perdeu mais tempo. Abandonando as chupadas que oscilavam em meus mamilos se ajoelhou no box e tirou minha calcinha, abrindo minhas pernas, indo com a língua certeira em meu clitóris.
O mundo se concentrava em sua língua e a minha sensação quando iniciou era que se o mundo parasse e eu estivesse ali seria a maior fortuna da minha existência.
Passaria horas somente sendo tocada por ela, para que sua boca não saísse de mim e principalmente para que seus lábios não deixassem de se fechar em volta daquele conjunto de terminações nervosas que me deixavam fora de mim.
Segurei seus cabelos quando percebi seu movimento se acentuar e dessa maneira somente também aumentei o volume dos meus sons.
— Quero gozar na sua boca — Falei, provocando-a com suas palavras preferidas: As que eram proibidas. Assim, percebi no incentivo e nos fios fechando em volta dos meus dedos um objetivo que não demorou a ser atingido: Que gozasse.
Esse, aliás, veio sem aviso. Cresceu sem permissão na ponta dos meus pés, passando pela coxa e cintura e no fim explodiu nos meus quadris quando ela começou a ondular a porra da língua em mim.
— Porra — Escapou de entre meus lábios e eu gozei copiosamente permitindo as pernas bambas serem seguradas por minha namorada que retribuição a generosidade — Preciso de uma cama — Reclamei depois de quebrar em mil pedaços e restituir-me.
— Só depois do banho, mocinha. Na minha cama passando isso você não dorme — Avisou. O que não disse, aliás, foi que acionaria de verdade o chuveiro dessa vez.
Conto erótico by Letícia Araújo (@Leteratura__)