A pessoa errada
Vocês já se apaixonaram pela pessoa errada?
Eu já e vou contar para vocês.
O errado varia muito de ponto de vista, na minha humilde opinião. Uma loira platinada de riso frouxo e olhos cor de café parecia muito certo para mim. Nerd, gostava das mesmas coisas que eu, compartilhava dos mesmos amigos, como isso poderia ser errado, não é mesmo?
Bom, ela ser hétero e namorar um babaca já era errado o suficiente para mim. Ainda assim era difícil não sentir calafrios toda vez que ela estava por perto. Soraya era o errado que eu queria muito que desse certo.
Era noite de sexta–feira, sem nuvens. A lua brilhava com intensidade no céu estrelado. Quando ela chegou, eu estava praticamente debruçada no telescópio da varanda, analisando planetas e anotando distâncias aproximadas entre corpos celestes.
Franzi as sobrancelhas, afinal não tinha planos para visitas e nem para sair. A noite seria destinada a estudos físicos e astrofísicos. Ajeitei os óculos de grau no nariz e prendi os cabelos escuros e ondulados em um coque alto antes de finalmente atender a porta.
– Sol? – Indaguei, surpresa.
Sério, como não infartar com aquele monumento de mulher? Ela estava com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e carregava uma leve maquiagem no rosto angelical. A calça jeans colada – contrastando com meu pijama de flanela quadriculado nada sexy – em conjunto com uma blusinha de alça fina só fazia com que meus extremos entrassem em ação. Opção 1: Arrastá-la para dentro de casa e leva-la para cama; Opção 2: Bater a porta na cara dela porque era difícil controlar a opção 1.
– Como vai minha astrônoma preferida?
– Estudante – suspirei, mas não consegui conter um sorriso. Era raro controlar as emoções perto daquela garota. – Vem, entra.
– Eu trouxe o jantar – Sol mostrou uma sacola com marmitas, o cheiro de comida japonesa estava realmente muito bom. – Tenho certeza que você ainda não comeu nada que preste.
Não respondi, só revirei os olhos e voltei para o escritório, que estava uma verdadeira bagunça. A mesa abarrotada de papeis, caixas de papelão com livros e estantes e prateleiras vazias. Como era de casa, ela se virou sozinha na cozinha e, quando apareceu, eu estava mais uma vez fazendo anotações na varanda.
– Jesus! – Sol fez uma careta ao entrar. – Tem certeza que você não precisa da minha ajuda com a arrumação dessa mudança? Já tem quanto tempo que você veio morar aqui, uma semana?
– Não, já estou terminando – deixei o caderno na cadeira e fui até ela.
– Não parece.
Não respondi, apenas sorri. Sim, eu ficava completamente idiota perto dela, não podia negar. Jantamos juntas no chão da varanda vendo as estrelas. A partir daí, já não me responsabilizo por nada que for contado aqui.
Após acabarmos de comer, voltei aos estudos com ela ao meu lado, fazendo perguntas e pedindo para também olhar no telescópio. Estávamos muito próximas, o cheiro do perfume floral sempre me deixava inebriada, era difícil raciocinar.
– Se você descobrisse um planeta novo, qual nome daria a ele? – A pergunta aleatória veio de repente, Sol olhava o céu pelo telescópio, sentada no banquinho ao lado, quase no meu colo.
– Eu daria o nome de Sol – e minha boca como sempre traiu meus pensamentos, soltando as palavras antes mesmo que eu pudesse impedi-las de sair.
A menção ao apelido dela a fez afastar o rosto do objeto e virar para me olhar, ela estava muito próxima. Droga, meu rosto estava ficando vermelho! A única resposta que eu pude dar foi um balançar de ombros despreocupado, como se aquilo não fosse nada de mais, mas era. Meu coração dizia que era e muito.
– Vão achar que é plágio – ela baixou os olhos para meus lábios, me deixando alerta. – Afinal o Sol já é o nome de uma estrela.
– Mas não é a mesma coisa…
Todos os alarmes do mundo soavam na minha cabeça, dizendo que o que eu estava prestes a fazer era errado, mas eu fiz mesmo assim. Finalizei a distância entre as bocas e a beijei pela primeira vez nesses quase dois anos de amizade. Não queria assustá-la, por isso fui breve e delicada com meu selinho.
Nossos olhos se encontraram a uma distância mínima, o castanho dela no preto dos meus. Nem ao menos percebi que tinha prendido a respiração, só soltei quando, por incrível que pareça, os lábios macios e volumosos voltaram a se encontrar com os meus. Foi como se um milhão de supernovas acontecessem ao mesmo tempo dentro do universo do meu corpo, estrelas de diversos tamanhos e formatos explodindo sem parar.
Correspondi ao mesmo, intensificando-o, tocando sua língua com a minha. Ainda estava confusa, mas não consegui agir de forma diferente.
Meu cérebro gritava: É errado, é errado, é errado.
E meu coração respondia: Cala a boca, se preocupa com a física que é a sua área.
Então, sob a luz de uma majestosa lua e uma imensidão de estrelas, nós intensificamos ainda mais o beijo. Chupei a língua para dentro da minha boca antes de morder o lábio inferior e o puxá-lo até que se desprendesse de meus dentes. Eu precisava respirar urgentemente, Soraya estava arrancando toda a minha sanidade com um único beijo.
Fiz menção em me afastar, mas ela me segurou pelos cabelos da nuca.
– Não foge…
– Sol, você sabe-
– Podemos falar disso depois – o tom de voz estava alguns decibéis mais baixo que o normal. – Por favor.
Não respondi, apenas voltei a beijá-la, agora tendo noção que, naquele momento, ela queria mesmo estar comigo. Somente me deixei levar.
Beijei sua boca por um tempo que física alguma seria capaz de calcular. Todo meu corpo implorava por ela, por cada célula dela, um imã me atraía cada vez mais para perto. Deixei os lábios avermelhados e criei um rastro de saliva até o lóbulo da orelha, que mordi e depois chupei. O gemido baixinho e rouco que Sol soltou me arrepiou por inteiro. Minhas mãos, antes tímidas e no pescoço dela, desceram pelos ombros e seguiram até a cintura, onde apertaram a pele por cima do tecido escuro do jeans.
Eu queria muito mais que isso, por isso afastei o rosto um segundo depois de beijar o pescoço alvo e cheiroso. Sol me olhou confusa.
– Vem comigo?
Era óbvia minhas intenções, mas naquela altura do campeonato eu já não conseguia controlar minhas ações e muito menos minhas palavras. Porém, muito diferente do que eu pensei que ia acontecer, ela assentiu e segurou minha mão estendida.
A intenção era leva-la para meu quarto, mas antes mesmo de chegar à porta do escritório, nós já estávamos nos beijando novamente. E dali não saímos mais. Ao invés disso, caminhei com ela até a mesa e a encostei na madeira. Beijei-a como se minha vida precisasse disso para manter as células em seu devido funcionamento, ela era minha energia necessária para
Sobrevivência diária.
Brega, eu sei, mas era a mais pura verdade.
As mãos dela exploraram meu corpo dessa vez, enquanto ainda nos beijávamos. Desceram pelas costas, subiram pelas costelas e ambas apertaram meus seios por cima do tecido do pijama. Não pude esconder a surpresa na ousadia e ri entre o beijo, afastando os lábios e fazendo menção em tirar a blusa dela, que logo estava jogada por cima da caixa de livro mais próxima. Prendi a respiração ao vê-la de sutiã e investi meus beijos por todo o tronco dela, sem mais hesitar em meus movimentos.
Beijei, lambi, mordi cada pedaço de pele disponível. Soraya se arrepiava a cada toque e soltava curtos gemidos. Não tardei em tirar a peça, liberando os seios.
– Posso tirar a sua roupa também? – Ela pediu de repente, eu sorri.
– Você não precisa nem pedir – voltei a beijá-la.
Os dedos finos de unhas pintadas de preto foram abrindo os botões do meu pijama até também me deixar nua da cintura para cima. O toque dos nossos seios me arrancou um gemido involuntário contra os lábios macios.
– Eu quero você, Lara.
– Porra, Sol… Por que você faz isso comigo?
– Eu nem fiz nada ainda – ela sorriu de um jeito malicioso que eu odiava e amava ao mesmo tempo.
Droga, eu não esperava pelo que estava por vir. Sol beijou meu pescoço, causando-me rajadas de arrepios. As mãos voltaram aos meus seios, agora sem a proteção do tecido, e os massagearam. Tentei ignorar o pulsar insistente entre minhas pernas e afastei com delicadeza as mãos, arqueando levemente o corpo para a frente e, sem delongas, abocanhando o mamilo rosado e rijo de prazer. Chupei e circulei com a língua, a mão livre abrindo o botão e o zíper do jeans. Antes de tirar, me dediquei alguns minutos ali nos seios, massageando um, brincando com a língua no outro.
Agora sim, tirei a calça juntamente com a calcinha. A visão dela nua bem na minha frente fez minha garganta secar na mesma hora. Meu sexo gritava na calcinha. Respirei fundo pelo menos umas três vezes antes de senta-la na mesa por entre papeis de rascunhos de fórmulas físicas sem fim. Então voltei a beijá-la, a mão escorregando por entre os grandes lábios, indo automaticamente de encontro ao clítoris pulsante. Gemi contra o beijo ao perceber o quanto ela estava molhada.
Sol gemeu com meus dedos explorando toda sua área de prazer. Percorri os dedos por todos os cantos, acariciando da entrada ao clítoris inúmeras vezes. Nossos olhos não se desgrudaram um só segundo nesse meio tempo de sensações novas para ambas.
– Eu não consigo me controlar, desculpa – falei de um jeito nervoso.
– Você não precisa se controlar – a loira mordeu o lábio inferior de um jeito muito sexy. – Faz o que tem que fazer.
Aquilo foi o bastante para mim. Beijei o pescoço, o colo, ambos os seios, a barriga em uns três pontos diferentes, e segui o caminho rumo a perdição. Quando meus lábios tocaram seu ponto máximo de prazer, Soraya apoiou os braços com mais firmeza sobre os papéis atrás de seu corpo e arfou.
Com os braços em volta de suas coxas, chupei o sexo enxarcado. Com a língua, fiz movimentos circulares e de sobe e desce, explorando toda a área rosada.
– Lara… – ela gemeu meu nome.
Pelo amor de Deus, eu ia morrer de tesão.
Ergui um braço e apertei seu seio esquerdo, enquanto a mão livre abria os grandes lábios para me dar uma área melhor para lamber. Eu sabia que Sol estava próxima de chegar ao orgasmo, podia sentir seu corpo reagindo aos meus gestos, os gemidos começando a sair com mais frequência, aos poucos ficando sem controle. Então, sem aviso, escorreguei dois de meus dedos por sua entrada e comecei um leve movimento de vai e vem ao mesmo tempo em que minha língua seguia com movimentos repetitivos e constantes.
– Lara, eu…
Não parei os movimentos, queria que seu primeiro orgasmo fosse na minha boca. O que não demorou a acontecer, Soraya entrou em uma sequência de orgasmos. Os gemidos se intensificaram, uma das mãos veio ao meu cabelo, prendendo os fios escuros entre os dedos com firmeza.
– Puta que pariu!
Eu não vou saber te dizer se o palavrão veio da boca dela ou da minha mente inquieta, mas…
– Lara?
Pisquei os olhos, assustada. Que merda aconteceu? Sol estava parada bem na minha frente, o rosto levemente corado, porém com as sobrancelhas franzidas de confusão. Estávamos na varanda, o resto do jantar no chão. Acima de nós, as estrelas pareciam pisca–pisca de Natal.
– Oi?
– Está tudo bem? Você ficou quieta de repente.
– Está sim, eu… – Fiz uma careta e levantei do banco às pressas. – Preciso ir no banheiro por um segundo.
E praticamente sai correndo da varanda, deixando a loira platinada extremamente confusa para trás. Agora, de frente para o espelho, eu observava meu próprio reflexo transtornado.
– Que merda foi essa? – Perguntei para mim mesma, me dando conta que eu tinha praticamente sonhado acordada que estava transando com minha melhor amiga.
(…)
O restante do tempo que passamos juntas naquela noite foi muito estranho para mim. Meu devaneio foi tão real que eu não conseguia ficar mais tão perto sem pensar nela sentada na mesa enquanto eu a chupava. Os gemidos ainda estavam vivos em minha mente, embora nunca tivessem acontecido.
Era pouco mais de dez na noite quando ela alegou que precisava ir para casa. Geralmente ela dormia comigo, o que sempre era uma tortura, mas dessa vez não me opus. Somente concordei e a levei até a porta. Mesmo estando atordoada e sabendo que Sol era uma garota totalmente inalcançável para mim, eu ficava grata toda vez que ela não comentava a respeito o namorado tóxico e abusivo dela.
– Obrigada pelo jantar – eu falei com um sorriso sincero, apoiada na porta. – Estava uma delícia.
– O que seria de você sem mim, hein? – No corredor, ela também sorria, mas as palavras me fizeram revirar os olhos.
– Acho que eu não seria nada, sabia? – Soltei.
As sobrancelhas mais escuras que os cabelos arquearam de leve. Sol olhou para os dois lados do corredor e deu dois passos até a porta, ficando na ponta dos pés e depositando um selinho longo em meus lábios, o que me deixou atônita. Ao se afastar, ela piscou e falou:
– Você pode chamar seu planeta de Soraya.
Naquele momento, enquanto eu a via entrar no elevador, eu percebi que a pessoa errada era a única que podia se tornar a certa. Eu só precisava resolver a fórmula de forma correta.
Conto erótico by Swann